E ontem estávamos lá: Beta (minha irmã) e eu. E mais dezenas
de ativistas do parto entre profissionais da área, doulas, mães, pais, gestantes
e tantos outros interessados nesse universo fascinante!
O filme é maravilhoso. Um documentário muito elucidativo
sobre a realidade obstétrica brasileira. É muito chocante também, quando passa
cenas de nascimentos via cesariana, a solidão do bebê e da mãe após o
nascimento. A mulher sendo colocada em segundo plano e o bebê tendo sua
recepção repleta de procedimentos invasivos, que são feitos de rotina sem
respaldos em evidências científicas. Foi de chorar! Aliás, o filme é de chorar do
início ao fim. Impossível não se emocionar com cenas, relatos, sejam porque
eles te chocam ou porque te emocionam pela beleza e respeito pelo nascimento.
Ontem no filme constatei o que já sei de tanto que leio,
participo de grupos. Que o rito de passagem que o nascimento representa para
uma mãe e um bebê é muito importante para ser medicalizado, sistematizado como
um processo em série, do quanto ele é importante para a criação do vínculo
mãe-bebê! Que nossa realidade obstétrica nos coloca como o país com maior
índice de cesarianas do mundo (52% contra os 15% recomendados pela OMS). Que os
médicos por conveniência financeira e de agenda inventam desculpas mil para
poder levar uma mulher para uma cesariana, com justificativas que aterrorizam as
gestantes, sendo a grande maioria dessa mitos que não justificariam a cirurgia.
Quantas de vocês que estão lendo esse post foi pra cesárea pelos mitos abaixo?
Enquanto via o filme e alguns relatos foi impossível eu não
reviver o momento do nascimento do Arthur. Fui levada para uma cesariana absolutamente
desnecessária. Eu chorei ao relembrar aqueles momentos desde a sentença de que
seria uma cesárea até eu poder ter ele nos braços. Uma tremenda impotência diante de tudo que tava
acontecendo. E ali, vendo o filme com imagens de uma cesárea eu agradeci por
não ter filmado o parto dele. Não iria conseguir rever imagens do meu filho
sendo tratado como um objeto, sendo retirado de mim de qualquer maneira. E olha
que Arthur não teve nitrato de prata sendo pingado em seus olhos nem foi
aspirado (pelo que o Fabio me contou). Eu não autorizei o colírio e isso foi
respeitado pela pediatra. Tb não tive meus braços amarrados e pude abraçar e
pegar Arthur logo que saiu de mim, ele tentou mamar e minutos depois já foi
levado para os cuidados. Mas ainda assim, saber que ele foi retirado de mim sem
terem me dado tempo de meu trabalho de parto evoluir e poder viver uma
experiência única, me dói! Como Arthur tava alto, empurraram minha barriga. Não
ia suportar ver aquilo tudo.
E eu Lembro que logo que cheguei ao quarto após a cirurgia
eu chorava dizendo: “Deu tudo errado!” e eu logo fui repreendida pela família
de que nada tinha dado errado não! Que eu devia parar de bobagem porque tudo
tinha corrido bem, Arthur e eu estávamos bem. Claro que sou muito grata de não
ter tido nenhuma intercorrência, de poder estar com meu filho saudável e
perfeito nos braços. Mas eu estava bem? Não! Não estava! Eu fui privada de
vivenciar meu trabalho de parto. Fui privada de ter meu parto por motivos
particulares do obstetra que não podia ficar à minha disposição aquele dia. Fui
privada de poder esperar minha irmã chegar e registrar o nascimento como tanto queria.
Fui levada para uma cesárea como se fosse uma emergência, sem tempo sequer de
eu poder digerir aquilo tudo! Não, eu não estava bem! Estarmos todos bem após a
cirurgia não foi o bastante! Mas a sociedade cobra uma felicidade da mulher
recém parida. Ainda que não tenha sido do meu jeito, de como idealizei e me
preparei, engoli o choro, e fui viver a felicidade de ter me tornado mãe, porque
essa felicidade sim existia, pois isso independe da via de nascimento.
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O clampeamento do cordão deve ser feito apenas após ele parar de pulsar. |
Mas voltando ao filme, foi maravilhoso ver profissionais
diversos falando sobre o parto humanizado, seus benefícios, ver lindos relatos
de mulheres que vivenciaram essa experiência. Simplesmente emocionante! Estávamos
todos inebriados de ocitocina – o hormônio do amor. Sem contar o gostinho bom
de saber que nós benfeitores de todo Brasil colocamos esse documentário nos
cinemas! Isso não tem preço!
O filme estreia amanhã - 09/08 - no Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília. As estreias em outras cidades estão informadas no site do filme. No Rio,
o filme será exibido no Espaço cinema Itaú – na Praia de Botafogo, com sessões
nos seguintes horários: 13:30h, 17h, 18:50h, 20:30h.
Não posso deixar de recomendar o filme a todos vocês! Seja
você mulher ou homem, grávida ou não. Conhecer sobre a forma de nascer é
imprescindível. Gravidinhas e tentantes, esse filme é de suma importância. Não
deixe que a experiência de nascimento de seus filhos seja envolta em frieza e
violência. Nós mulheres e nossos bebês merecemos respeito ao nosso tempo, nossa
natureza e nossos corpos. Informe-se para poder exigir o melhor pra você
e seu bebê. Até porque se gastamos tanto energia em planejar o enxoval e o
quartinho do bebê com todo nosso amor e carinho, porque negligenciar o
planejamento do parto? Porque deixar essa decisão em mãos de terceiros, ainda
que ele seja seu médico de confiança, de anos? Assistam e depois me contem suas
impressões? Até agora só tenho feedback de pessoas ligadas ao movimento do
parto, que são ativistas ou simpatizantes. Muito gostaria de saber o que achou
uma pessoa totalmente fora do movimento, aquela que nunca pensou muito a
respeito do assunto. Queria saber qual mensagem ficou e se foi tocado pelo
filme como nós ficamos.
O site do filme tá lindo! Dá uma olhada: http://www.orenascimentodoparto.com.br
Lá também tem muita informação que toda mulher deve
conhecer.
Imagens fonte: site do filme. http://www.orenascimentodoparto.com.br Lá tem muitas outras informações e imagens!
Beijos ocitocinados!
Beijos ocitocinados!
Flavia, não vi ainda o filme mas pretendo vê-lo em breve. Mas queria deixar aqui uma discussão que tivemos sobre esse filme essa semana na faculdade que eu trabalho.
ResponderExcluirÉ sabido que a enorme maioria dos médicos é contra parto domiciliar. E isso tem uma justificativa, pra uma pessoa que vivenciou muitas situações de complicação em gestações aparentemente de baixo risco soa irresponsabilidade fazer um parto sem o suporte todo de um hospital. É difícil aceitar que a mulher não possa ter um parto "do jeito que ela quiser" no hospital. Claro que existem estatísticas pra assegurar a viabilidade de se fazer PD, mas pra quem vê ao vivo coisas que deram errado (ainda que tenha sido uma única vez) as estatísticas meio que vão pro espaço.
Mas estou falando isso pq a primeira pessoa fora do mundo FB que vi comentar sobre o filme foi uma aluna minha (interna do quinto ano de medicina). Ela disse: ontem lançaram aquele filme "O Renascimento do parto", eu ia na pré estreia com uma amiga minha que é jornalista, mas não fomos, ainda bem, pq eu com certeza iria morrer de raiva disso. Já fiquei com ódio do Marcio Garcia falando que pegaram o filho dele de tal jeito, que coisa mais ridícula. O filme fala que todo mundo tem que ter parto domiciliar.
Eu falei pra ela que não tinha visto o filme mas tinha assistido o trailer tb. E que não se trata apenas de parto domiciliar e que eu não fiquei com raiva nenhuma, pelo contrário.
Aí eles perguntaram o que o Marcio Garcia sabia de parto e ela disse ele e o diretor do filme. Eu falei que não era isso, mas que ele tinha tido filho nascido por PC, por PN e finalmente por PD, por isso ele estava lá.
Aí ela disse que ia ter uma discussão posterior e que devem ter pago médicos pra irem lá defender esses absurdos. Eu expliquei que existem médicos que realmente acreditam nesse tipo de parto e que por isso tinham pessoas que iam lá defender. Expliquei tb como foi conseguido o dinheiro pro filme ser lançado. Falei do meu parto, das coisas ruins que aconteceram, apesar de eu não ter sido enganada nem nada sobre a cesárea. E então essa aluna finalmente concordou que realmente tem coisas erradas, que o bebê é exposto como em um zoológico.
E todos concordaram que se existem movimentos chamados de radicais é pq a situação está completamente invertida. Que a mulher não é obrigada a ter um PN, mas que cesárea por cordão enrolado no pescoço não tem cabimento. Sempre que posso tenho essa conversa com eles, principalmente pq o ciclo da hebiatria é logo depois do da obstetrícia. Acho que pra isso mudar precisaremos sensibilizar os alunos de medicina, os futuros obstetras. Apesar de eles passarem em estágio em um hospital amigo da criança com altos índices de PN eles me raiva do parto normal, e mais ainda natural. Muito pq a assistência está longe de ser a ideal e pq eles vem o TP todo como um momento de dor, de berros. Todas as alunas saem do ciclo falando que farão cesárea. Discutimos então tudo, inclusive o aspecto financeiro, de que o obstetra de plano de saúde não vai ficar disponível por 12, 15, 18h pra ganhar o mesmo que ganharia em uma cesárea, que nessas 12 horas ele deixou de atender o consultório e perdeu $, que nesse consultório de plano de saúde atende-se por quantidade então como seria se ele ficasse essas 18 horas com cada paciente? Mas fala-se tb de modelos outros que poderia dar certo. De parto com equipe e não com o fulano determinado, enfim acho interessante plantar dúvidas na cabeça deles rs.
Por outro lado a notícia boa é que a Sociedade Paulista de Pediatria vem divulgando o filme para os pediatras, achei uma coisa bem legal.
Desculpa p texto gigante!
bjs